quarta-feira, 26 de agosto de 2009

contração

Extra terráqueo, olha pra cá com seu telescópio

saca só as primeiras amebas, o fogo, a água, a pornografia química toda

quiçá um dia alguém ainda conserve nem que seja um restinho do seu DNA

para apreciar a beleza de uma mulher daqui


se é que elas vão ficar assim, tal e qual as conheci

mas se assim for e pelos cálculos de uns e outros

bem nesse dia-luz que se dará o encontro, o flerte, o amor

ambos explodirão

numa colisão sem precedentes

e aí toca esperar que a pornografia recomece

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

na estatística

Agora, para minha surpresa, como há muito não vivia, administro esse cabo de guerra entre o pijama e o celular, entre o filme na TV e o network, entre a formatação do ócio e a atualização do curriculum vitae. Ainda não voltei aos treinos de malabarismo com limões, nem arrisquei negociação com um dos homens placa do centrão. Tampouco me entreguei à vida mística ou iniciei a decapitação dos gastos, o que implicaria abdicar, ainda que momentaneamente, do rodízio de comida japonesa, da cerveja colorado, do futeba semanal (se eu já tivesse começado), do quatropaum, do pedal de efeito novo, enfim, de tudo o que é supérfluo. Supérfluo pra quem, cara pálida?

Na verdade, continuo me ajustando à mudança de fuso horário, aclimatando o estômago e a sola do pé, espiando na maciota, fazendo coro com o dom anastácio III, flanando ao léu e papeando com os dispostos. Modulando uma de leve, como diria meu avô quando do beberico de um aperitivo. E, nesse contexto, tem hora que parece que o segundo está de onda e o minuto de marola. E isso só pode ser um sinal. Sinal de que preciso mesmo é vestir a sunga e o pé de pato e dar um tchibum no atual instante.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

de lá do alto


Eu não me equilibrava bem deitado naquele platô flutuante, ainda mais com as pernas penduradas pra fora. Cada vez que o vento batia, embora refrescante, tanto pelo sol de fim de tarde no rosto, quanto pelo silêncio insistente, eu quase caía de volta a Terra. Sempre quase. Mas nada que impedisse o sono, o soninho que me embrulhava. Logo eu já roncava alto e viajava para a padaria da avenida ceci, para a escadaria do metrô conceição, para o quintal da vó leninha em são joão, para a comportada matinê do sírio, para o pé de amora do sítio que virou canil. Até que o frio na barriga de mais uma turbulência interrompesse outra vez o cheiro de pão de queijo recém-saído do forno, a doce dor do joelho em carne viva, o chiado musical do radinho de pilha com capa de couro, o sabor das primeiras bitocas e cangotes, o branco dos dentes dos coroas ao me ver lambuzado da cabeça aos pés... .

E assim via. E assim petiscava. E era bom.