segunda-feira, 3 de agosto de 2009

de lá do alto


Eu não me equilibrava bem deitado naquele platô flutuante, ainda mais com as pernas penduradas pra fora. Cada vez que o vento batia, embora refrescante, tanto pelo sol de fim de tarde no rosto, quanto pelo silêncio insistente, eu quase caía de volta a Terra. Sempre quase. Mas nada que impedisse o sono, o soninho que me embrulhava. Logo eu já roncava alto e viajava para a padaria da avenida ceci, para a escadaria do metrô conceição, para o quintal da vó leninha em são joão, para a comportada matinê do sírio, para o pé de amora do sítio que virou canil. Até que o frio na barriga de mais uma turbulência interrompesse outra vez o cheiro de pão de queijo recém-saído do forno, a doce dor do joelho em carne viva, o chiado musical do radinho de pilha com capa de couro, o sabor das primeiras bitocas e cangotes, o branco dos dentes dos coroas ao me ver lambuzado da cabeça aos pés... .

E assim via. E assim petiscava. E era bom.

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