terça-feira, 14 de julho de 2009

très bien avec le cinéma... malgré tout


Na tentativa de aproveitar um feriado de emenda em terras paulistanas, chafurdei-me em duas sessões improváveis de cinema. Improváveis pelo preço das salas onde se pode admirar a sétima arte, pelo aguaceiro que acometeu a megalópole, pelo frio, pelo trânsito caduco, pela dificuldade de estacionar o carro, e, em última instância, pelas películas escolhidas. Gosto de filme francês. Mesmo. Mas sejamos sinceros, o troço exige.

Há que se estar disponível e tudo tende a ser mais fácil com uma amada ao lado, pela predisposição poética. Serenidade é altamente recomendável também. Mas não em demasia, porque senão o sono vence. E isso me faz lembrar de outra exigência para o momento que precede a entrega do tíquete na catraca: café. E atenção: atenção! Concentre-se o suficiente para não perder o fio, mas não notar certas arritmias. Preenchidos os requisitos e determinado a enfrentar a urbanidade como uma chamada de sessão da tarde – “um misto de ação, aventura e comédia, cheia de surpresas mil” –, você já pode partir para as produções provindas da pátria-mãe da nouvelle vague.

Há Tanto Tempo Que Te Amo e Horas de Verão foram as duas pedidas, uma em cada dia. Ótimas histórias, diga-se de passagem, sendo a primeira mais misteriosa, delicada e bem contada cinematograficamente que a segunda. Pelo menos foi o que pensei enquanto ainda arrumava o cabelo amassado pela poltrona. Mas lá se vão alguns dias e sou obrigado a assumir que o Horas de Verão mexeu além do penteado e veio perturbando meus pobres miolos castigados.

Em poucas palavras, o filme se desenvolve em torno de uma divisão de herança entre três irmãos, cuja mãe morre deixando uma casa repleta de obras de arte. Não há grandes brigas, trapaças, chantagens, melodramas, nada disso. Nesse caso, ainda bem. E nem são as resoluções ora frias demais, ora um tanto reticentes dos personagens que mais intrigam, mas essa enorme dificuldade de manutenção de relações familiares ativas, com as pessoas em sintonia, próximas. O curioso é que afetividade está presente, ainda que de forma intrínseca.

E as causas dessa diluição do sangue do nosso sangue já nem são os desgastes de relacionamento e as maledicências naturais entre parentes, mas pura e simplesmente o efeito colateral da vida e da morte no mundo de hoje, do modus operandi em pixels e não em grãos, do establishment em HD, da crise do pós e da pré-crise e dá-lhe coisa e coisa e tal, porque nome quase velho é o que não falta. A questão é que saí de lá pensando que preciso visitar minhas avós, dar um beijo na mãe, um salve pra tia convalescente, um alô pros primos do interior, mas sabe como é, falta tempo... Ainda mais com tanto filme francês exigindo tudo isso da gente por aí.


Um comentário:

  1. bota mais um na lista..

    bem vindo...

    e o meió.. cine sesc.. ou seja.. vc assiste de dentro do bar!

    irra!

    au revoir!

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mandaí!